CORPO & ALMA

Alterar os hábitos alimentares e os estilos de vida O nutricionista João Breda dá alguns conselhos neste sentido. 1. Reduza o consumo de gorduras de origem animal 2. Coma mais produtos hortícolas e frutos, assim como cereais pouco refinados (pão escuro, por exemplo) 3. Prefira o peixe à carne e, só de vez em quando, peixe gordo 4. Se bebeu durante as festas, faça um jejum de bebidas alcoólicas durante os dias que se seguem. Posteriormente, beba de forma regrada 5. Faça 5 a 6 refeições por dia com intervalos de três horas 6. Pratique uma actividade física para queimar mais calorias (tanto pode ser num ginásio como a prática diária de uma caminhada) 7. Suba escadas em vez de andar de elevador 8. Deixe o carro em casa e vá de transporte público para o trabalho. Depois, desça na paragem antes e faça o resto do percurso a pé

A época de todos os desregramentos chegou ao fim. Excesso de stress e, sobretudo, de excessos alimentares. Ao longo de todo o mês de Dezembro – e não só na noite e no dia de Natal e de Ano Novo – somos levados a ingerir grandes quantidades de alimentos gordurosos, fritos e bem condimentados, e excessivamente calóricos. Porque o tempo frio faz apetecer pequenos grandes consolos, e a festa da família e dos amigos assim proporciona, somos levados a petiscar aqui e ali, quase em cada paragem. Mas como resistir a tão vastas e aliciantes propostas gastronómicas, à maravi-lhosa doçaria em forma de anjos e estrelas, às tradicionais filhoses e sonhos, às rabanadas, ao tronco de Natal ou ao pudim de pão apinhado de frutos cristalizados ensopado em licor? Depois há o vinho e o champanhe, e os pequenos canapés a anteceder cada encontro de amigos, colegas e família. Também tendemos a passar mais tempo sentados. E os fumadores fumam mais. Foi sempre assim nos dias de festa, garante o médico de família Sebastião Baleiras. “Nestas alturas, ‘tirava-se a barriga de misérias’, como era costume dizer. A diferença é que, há 30 anos, por exemplo, comia-se o essencial e de forma equilibrada no resto do ano. Hoje, porque a oferta é muito mais vasta, os produtos são mais baratos e existe grande publicidade sobre os mesmos, cai--se muito facilmente nos excessos, e de forma constante. Deixamos de comer por instinto.”

Este tipo de vida tão pouco saudável em termos de alimentação – a que se junta, quase sempre, estilos de vida muito sedentários – é particularmente prejudicial para as pessoas que sofrem de problemas digestivos, gastrointestinais e biliares. Entre outras coisas, “origina a subida das tensões arteriais e dos níveis de colesterol, que por vezes também já estão altos”, acrescenta o médico. Por outro lado, também contribui drasticamente para o aumento de peso. No caso de existir uma doença deste género, o mais aconselhável é que a pessoa seja acompanhada pelo seu médico de família ou por um especialista, de forma a poder seguir um plano alimentar equilibrado e medicação apropriada à sua história clínica.

A limpeza do organismo e a perda de peso não se fazem através da privação dos alimentos, mas através da sua ingestão criteriosa. “É fundamental continuar a comer de tudo, só que de forma equilibrada”, diz Sebastião Baleiras. Ou seja, importa diversificar e fraccionar os alimentos ao máximo e apostar mais em alguns em concreto. “Por exemplo, deve-se reduzir ao máximo as gorduras de origem animal, comer mais frutos, produtos hortícolas e cereais pouco refinados”, observa o nutricionista João Breda.

Grupos de alimentos Fique a saber um pouco mais sobre a pirâmide dos alimentos, por ordem crescente de importância. Cereais: trigo, arroz, massas e pão, entre outros. De todos, os integrais são os melhores. Os cereais estão na base da pirâmide e ajudam a controlar o colesterol no sangue e a diabetes. Devem ser incluídos em todas as refeições. Legumes: alfaces, cenouras, espinafres, aipos, por exemplo. São muito importantes para o organismo e devem ser preferencialmente consumidos em saladas, ou cozidos. Leguminosas: destaque para o feijão, o grão, as favas e as lentilhas. São riquíssimas como fonte de proteínas vegetais e ricas em fibras, vitaminas e minerais. Frutas: excelentes quando ingeridas frescas, pois são muito ricas em fibras, vitaminas e sais minerais. Carne: peixe e ovos são extraordinárias fontes de proteínas, aminoácidos e ferro. Sendo muito mais gordas, as carnes vermelhas devem ser evitadas. Gorduras e doces: as gorduras formam ácidos gordos essenciais e absorvem as vitaminas (A, D, E e K), os doces são calóricos e muito pouco nutrientes. Não se deve abusar de uns e de outros.

Ambos os especialistas alertam para as imensas formas de confeccionar os alimentos de forma saudável, mais criativa e igualmente apetecível. O que poderá passar pela preparação de pratos muito coloridos, com diferentes gostos, sabores e texturas, por exemplo. “No que respeita à carne, deve dar-se prioridade às brancas, uma vez que são mais saudáveis do que as vermelhas. Preferencial-mente, o peixe deve ser cozido ou grelhado se não for muito gordo. O problema de grelhar alguns peixes é que podem fritar na sua própria gordura”, explica o médico.

“É possível comer todos os alimentos desde que de forma moderada. Ou seja, nas quantidades certas”, sublinha o médico. “Para isso, é importante conhecer a pirâmide dos alimentos e a forma como estes se comportam no organismo.” Esta mesma tese é válida tanto nos casos em que se pretende manter o peso certo como para purificar o organismo dos excessos. Para o efeito, também se deve beber no mínimo dois litros de água por dia, já que esta ajuda à limpeza orgânica do organismo.

A adopção de um plano alimentar saudável e equilibrado no dia-a-dia não invalida a prática desportiva, asseguram os especialistas. Bem pelo contrário, elas completam-se na perfeição. “Por vezes, basta implementar o hábito de andar a pé, em passo acelerado, todos os dias pelo menos durante 20 a 30 minutos, de manhã e à tarde”, comenta Sebastião Baleiras. “Não é a passo de ver montras, este serve apenas para manter o equilíbrio. Para evitar o peso a mais e queimar calorias, recomenda-se a marcha ou o subir escadas com alguma frequência.” É claro que a ida ao ginásio também pode ser uma solução, mas, segundo os especialistas, não é forçoso que a prática de uma actividade física tenha de passar necessariamente por estas academias. “O que importa verdadeiramente é que o exercício seja apropriado às necessidades de cada indivíduo, tendo em conta a importância desta actividade ao nível do apare-lho cardiovascular e como meio de consumir as calorias”, salienta o nutricionista João Breda.

De acordo com os especialistas, tudo seria mais fácil se os excessos alimentares só ocorressem de facto uma ou duas vezes no ano, pontualmente, em alturas de festas. O problema é que passamos o ano inteiro em sucessivas orgias alimentares e não nos mexemos, o que consequentemente se vai reflectindo no nosso organismo excesso de peso e outras patologias, nomeadamente as cardiovasculares.

Não nos devíamos mover unicamente pelo estético. Tanto mais que é impossível mantermo-nos bonitos se não tivermos saúde. A beleza e a saúde caminham de mãos dadas. “A duração do corpo é um pouco como a duração das coisas, dos objectos e das máquinas que nos rodeiam. Se o uso for cuidado, o desgaste é progressivo, mas se os objectos forem sujeitos a grandes impactos durarão muito menos tempo. É verdade que uns são mais perfeitos do que outros. Há pessoas naturalmente mais saudáveis do que outras, mas se soubermos cuidar de ambas, umas e outras poderão durar muito mais tempo”, observa Sebastião Baleiras.

Assim, é essencial não só limpar o organismo dos excessos alimentares das festas como, provavelmente, pensar em pôr em prática um plano de alimentação equilibrada para a vida.